Lembro-me bem do gosto amargo do café frio que fica impregnado na boca, é
bem parecido com o gosto do fim. A gente lembra quando era quentinho,
confortante, acompanhava uma boa conversa e uma boa dose de sonhos. Que depois
lentamente foi se esfriando com o tempo e por fim restaram alguns centímetros
de café frio na xícara com alguns pozinhos de café mal coado. E a gente acaba tomando
pra não jogar fora, na expectativa do gosto não estar tão ruim. A única coisa
que conseguimos querendo salvar o restinho de café da xícara é um gosto amargo
que demora sair da boca e vai impregnando seu dia.
O amargo do fim que fica na boca agarrado a cada palavra e sorriso que
esboçamos, não tira o prazer do café quentinho coado na hora, tomado com
simplicidade, acompanhado de quitandas caseiras e um bom pão de queijo, regado
com muita conversa e ampliado com sonhos e poemas.
Mas todo chá da
tarde termina com um belo pôr do sol que pode ser admirado ou ignorado. Toda
chá pode ser estender até o jantar e terminar com um bom café (da manhã)
fresquinho ou com um abraço e aperto de mão, até breve ou até nunca mais. Tudo
depende, tudo é relativo, mas tudo termina um dia! E o fim deixa o hálito de
coisa perdida na boca que parece que vai te estrangulando aos poucos, mas que
aos poucos e com escova de dente, passa. Assim como as marcas de batom na
xícara de porcelana e o perfume deixado nas roupas na hora do abraço de chegada
ou de despedida. E o fim passa, e o pôr do sol dá lugar a Lua e suas estrelas,
onde em cada uma pode existir um pequeno príncipe rindo por você, só pra você.
E a gente acaba adormecendo sob a luz da Lua ouvindo as risadas fogosas das
estrelas e acordamos com raios do nascer do Sol esplendoroso num novo dia,
digno de um novo chá da tarde!