Ele era tão doce, amigo, sincero, inteligente, encantador, tão tanta
coisa boa que dava vontade de tê-lo, pensava Ana quando o olhava discretamente
do alto da cabeça às pontas dos pés, passando pelo olhar, boca, nariz, coração.
Ele era mais novo, não havia como negar e isso se colocava como barreira para
Ana. Confundida, incerta, errante e pensativa.
Ao mexer o cabelo, tentando acertar os cachos que teimavam em tornear o
rosto, tentava também se acertar, se recompor, se... Eram tantos “se”. E se ele
a achasse velha demais? E se ela realmente fosse velha demais? E se fosse bom e
ninguém aceitasse? E se... E se... E se... E se o tempo fosse bom e conservasse
aquele momento? E se as dúvidas fossem apagadas? “E se” eram palavras tão duras
e pouco sinceras que a dilaceravam. Ana
ao olhá-lo de novo, repassando minuciosamente cada “e” e “se” presentes no ar, foi
lentamente se afastando, como se um metro de distância pudesse afugentar cada
sentimento, cada suspiro, cada angústia, cada incerteza.
Cada “e se” foi ganhando status de certeza e Ana foi se elaborando e
elaborando que não fazia sentido. Ana o olhou pela última vez, e deu mais um
passo, quase imperceptível, para trás, dando as costas para tudo que a deixava
incerta e insegura e cheia de “e se”.
Paulo sem entender tocou no ombro de Ana, que fechou lentamente os olhos
procurando em si, como um raio, algo em que pudesse se agarrar para ir embora,
mas lembrou-se que nada até ali a estremecera daquele jeito. Lembrou do melhor
sorriso, do mais claro, do mais sincero, lembrou que nunca o abraçara por medo
de não querer soltá-lo, lembrou e foi lembrando. Sem querer uma lágrima revelou
o que a tanto tempo estava guardado sem que Ana soubesse e tudo dentro dela se
misturou outra vez, tudo estava ao chão, nada em que pudesse se agarrar.
Em suspiros, misto de desespero e agonia, ela seguiu deixando a mão de
Paulo cair lentamente no vácuo de sua presença.
Ana caminhou apressadamente pela rua mais próxima e desapareceu como quem nunca
existiu. Seus pés apressados começaram a perder a firmeza, que antes convictos
do caminho, a levaram até ali. E sem querer chorou profundamente, como criança
ofendida.
Como o tempo era ingrato, porque ela, porque ele?
Ana suspirou, os seus pés nunca tiveram saído do lugar, seu corpo apenas
havia estremecido com a aproximação de Paulo, sua mente em “dejà vu” a levara
ao choro para perceber tudo.
Num ato inesperado e não impensado
se voltou ao olhar de Paulo, que nada compreendera e de súbito silenciou seu
pensamento com seus lábios úmidos de lágrimas e desespero, nada demorado, mais
que marcava o fim de tantos “e se” e selava o “e”.
Ana que beijou Paulo, que a abraçou sem entender e que ficaram ali
parados sob o céu, que nada tinha de especial naquela noite. Não importava se tinha
lua ou nuvens, naquele momento só importavam Paulo e Ana.
Autoria: Nanna Krishina
Nenhum comentário:
Postar um comentário